O problema sinótico - Raymond E. Brown
- Victor Santos
- 29 de mai. de 2019
- 4 min de leitura
Para uma introdução dos evangelhos por Raymond E. Brown clique aqui. Sobre o "problema sinótico", ele explica que chamar os evangelhos de "sinóticos" significa que podemos analisar os três primeiros evangelhos um ao lado do outro (sin-oticamente). Eles tem tanto em comum que, no terceiro estágio (os evangelhos escritos), deve ter existido alguma dependência de um ou dois em relação ao terceiro ou a uma fonte escrita comum.
Podemos ver abaixo uma estatística na relação dos evangelhos para compreender essa afirmativa do autor:

O material marcano encontrado em Lucas e Mateus é chamado de "Tríplice Tradição". O material não marcano encontrado nos dois outros é chamado de "Dupla Tradição". Em ambos os casos, a ordem segundo a qual esse material comum é apresentado e a fraseologia na qual vem expresso são tão semelhantes que se deve postular muito mais uma dependência no nível escrito do que simplesmente no nível oral.
Brown afirma que essas informações emergem a ideia da existência de um "Proto-evangelho". A maior parte da pesquisa ao invés de apostar em proto-evangelhos não mais existentes e em apócrifos bem antigos, utiliza-se do relacionamento entre os evangelhos existentes, ou seja, de hipóteses de mútua dependência.
Na chamada "Hipótese de Griesbach" acredita-se que Mateus foi o primeiro evangelho e foi usado por Lucas. Essa hipótese remonta Agostinho (século IV) e é a mais antiga explicação. Nessa hipótese, a abordagem canônica é também a sequência dessa dependência: Mateus foi escrito primeiro, Marcos abreviou severamente Mateus e, a seguir, vieram Lucas e João, cada um utilizando-se de seu predecessor. Em 1789, J.J. Griesbach propôs uma teoria da dependência de acordo com a ordem: Mateus, Lucas e Marcos. A base da teoria é que a prioridade mateana é tradicionalmente considerada desde a Antiguidade. Marcos fica por último por representar um resumo que narra os materiais de Mateus e Lucas.

Mas essa hipótese sofre boas críticas. Por exemplo, a narrativa lucana da morte de Judas em At 1.18-19 é dificilmente reconciliável com Mt 27.3-10. Quanto a ordem, se Lucas usou Mateus, por que o lugar no qual insere o material de Q difere tanto do de Mateus. O argumento se tornaria mais forte se Lucas usou Marcos também (tese de Agostinho), pois aquele segue de perto a ordem de Marcos. Outro problema seria o de Lucas omitir as adições mateanas a Marcos (p.ex. Mt 3.14-15; 12.5-7; 16.17-29; 21.14-16; 26.52-54).
Temos então uma outra hipótese, chamada "Hipótese das Duas Fontes", da qual acredita que Marcos foi escrito primeiro e tanto Mateus quanto Lucas se utilizam dele. "A tese mais comum, portanto, argumenta que Mateus e Lucas dependem de Marcos e escreveram independentemente um do outro. O que eles tem em comum e não proveio de Marcos (a Dupla Tradição) é explicado com base em Q.
O argumento básico para essa hipótese é que a prioridade de Marcos é a que resolve mais os problemas do que qualquer outra teoria. Oferece a melhor explicação para o fato de Mateus e Lucas concordarem tão frequentemente com Marcos na sequência e na fraseologia, e permite razoáveis conjecturas para o fato de Mateus e Lucas diferirem de Marcos quando isso acontece independentemente. Por exemplo, os outros evangelistas não gostavam das redundâncias de Marcos, de suas deselegantes expressões gregas, da apresentação pouco lisonjeira dos discípulos e de Maria.

A existência da fonte Q
Sobre a Fonte Q, Raymond diz que a denominação fonte "Q" é do alemão Quelle, que significa fonte e que foi criada por J. Weiss em 1890. Essa denominação para uma fonte hipotética, postulada pela maioria dos estudiosos para explicar o que anteriormente foi denominado Dupla Tradição, ou seja, concordância (muitas vezes nas palavras) entre Mateus e Lucas em material não encontrado em Marcos.
Essa hipótese presume que o evangelista mateano não conheceu Lucas e vice-versa, de modo que devem ter tido uma fonte comum. Assim como em alguns casos apenas Mateus ou Lucas conservem material de Marcos é igualmente possível que material encontrado somente em dois dos evangelhos tenha existido em Q.
A fonte Q é normalmente reconstruído como um documento grego escrito porque o único guia são dois evangelhos em grego e porque um corpo de tradição puramente oral não explicaria as amplas seções da Dupla Tradição que se encontram na mesma ordem. Essa fonte reconstruída consiste em ditos e em algumas parábolas com um mínimo absoluto de contexto narrativo, existe, portanto, um acento fortemente sapiencial. A descoberta do Evangelho de Tomé em copto, que representa um grego original do séc. II, provavelmente, mostra que havia composições cristãs formadas por coleções de ditos.
Tal como outros materiais evangélicos, esses ditos foram preservados porque eram considerados importantes para os cristãos de então. Q tem um impulso fortemente escatológico nas admoestações, nos lamentos e em algumas parábolas. Tem-se a impressão de que o julgamento é iminente.

Raymond E. Brown (1928-1998) foi um teólogo católico norte-americano especialista na "comunidade joanina". Um grande estudioso do Novo Testamento, era doutor em Sagrada Teologia e em Línguas Semânticas. Brown tem o mérito de receber mais de 24 títulos honorários de diversas universidades, inclusive protestantes.
Foi um dos primeiros católicos a utilizar uma análise crítica da Bíblia e tem mais de 25 livros publicados.
O material aqui disponibilizado é uma síntese de uma parte da obra do Brown. Para compreender melhor esse tema e ter acesso a obra consulte: BROWN, Raymond E. Introdução ao Novo Testamento - São Paulo: Paulinas, 2012
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